O alcoolismo é o conjunto de problemas relacionados ao consumo excessivo e
prolongado do álcool; é entendido como o vício de ingestão excessiva e regular
de bebidas alcoólicas, e todas as conseqüências decorrentes. O alcoolismo é,
portanto, um conjunto de diagnósticos.
Problemas Psiquiátricos
Causados pelo Alcoolismo
· Intoxicação
por álcool,
A pessoa que abusa de álcool não é necessariamente alcoólatra, não precisa
fazer uso continuado. Porém caracteriza pessoas que recorrentemente têm
problemas por causa dos exagerados consumos de álcool em curtos períodos de
tempo.
Critérios: para se fazer
esse diagnóstico é preciso que o paciente esteja tendo problemas com álcool
durante pelo menos 12 meses e ter pelo menos uma das seguintes situações:
a) prejuízos
significativos no trabalho, escola ou família como faltas ou negligências nos
cuidados com os filhos.
b) exposição a situações
potencialmente perigosas como dirigir ou manipular máquinas perigosas
embriagado.
c) problemas legais como
desacato a autoridades ou superiores.
d) persistência no uso de
álcool apesar do apelo das pessoas próximas em que se interrompa o uso.
Para se fazer o diagnóstico de dependência alcoólica é necessário que o usuário
venha tendo problemas decorrentes do uso de álcool durante 12 meses seguidos e
preencher pelo menos 3 dos seguintes critérios:
a) apresentar tolerância
ao álcool -- marcante aumento da quantidade ingerida para produção do mesmo
efeito obtido no início ou marcante diminuição dos sintomas de embriaguez ou
outros resultantes do consumo de álcool apesar da continua ingestão de álcool.
b) sinais de abstinência
-- após a interrupção do consumo de álcool a pessoa passa a apresentar os
seguintes sinais: sudorese excessiva, aceleração do pulso (acima de 100),
tremores nas mãos, insônia, náuseas e vômitos, agitação psicomotora, ansiedade,
convulsões, alucinações táteis. A reversão desses sinais com a reintrodução do
álcool comprova a abstinência. Apesar do álcool "tratar" a
abstinência o tratamento de fato é feito com diazepam ou clordiazepóxido dentre
outras medicações.
c) o dependente de álcool
geralmente bebe mais do que planejava beber
d) persistente desejo de
voltar a beber ou incapacidade de interromper o uso.
e) emprego de muito tempo
para obtenção de bebida ou recuperando-se do efeito.
f) persistência na bebida
apesar dos problemas e prejuízos gerados como perda do emprego e das relações
familiares.
A síndrome de abstinência constitui-se no conjunto de sinais e sintomas
observado nas pessoas que interrompem o uso de álcool após longo e intenso uso.
As formas mais leves de abstinência se apresentam com tremores, aumento da
sudorese, aceleração do pulso, insônia, náuseas e vômitos, ansiedade depois de 6
a 48 horas desde a última bebida. A síndrome de abstinência leve não
precisa necessariamente surgir com todos esses sintomas, na maioria das vezes,
inclusive, limita-se aos tremores, insônia e irritabilidade.
A síndrome de abstinência
torna-se mais perigosa com o surgimento do delirium tremens. Nesse estado o
paciente apresenta confusão mental, alucinações, convulsões. Geralmente começa
dentro de 48 a 96 horas a partir da ultima dose de bebida. Dada a
potencial gravidade dos casos é recomendável tratar preventivamente todos os
pacientes dependentes de álcool para se evitar que tais síndromes surjam. Para
se fazer o diagnóstico de abstinência, é necessário que o paciente tenha pelo
menos diminuído o volume de ingestão alcoólica, ou seja, mesmo não
interrompendo completamente é possível surgir a abstinência. Alguns
pesquisadores afirmam que as abstinências tornam-se mais graves na medida em
que se repetem, ou seja, um dependente que esteja passando pela quinta ou sexta
abstinência estará sofrendo os sintomas mencionados com mais intensidade, até
que surja um quadro convulsivo ou de delirium tremens. As primeiras
abstinências são menos intensas e perigosas.
O estado de intoxicação é simplesmente a conhecida embriaguez, que normalmente
é obtida voluntariamente. No estado de intoxicação a pessoa tem alteração da
fala (fala arrastada), descoordenação motora, instabilidade no andar, nistagmo
(ficar com olhos oscilando no plano horizontal como se estivesse lendo muito
rápido), prejuízos na memória e na atenção, estupor ou coma nos casos mais
extremos. Normalmente junto a essas alterações neurológicas apresenta-se um
comportamento inadequado ou impróprio da pessoa que está intoxicada.
Síndrome amnéstica (Wernicke-Korsakoff)
Os alcoólatras "pesados" em parte (10%) desenvolvem algum problema
grave de memória. Há dois desses tipos: a primeira é a chamada Síndrome
Wernicke-Korsakoff (SWK) e a outra a demência alcoólica.
A SWK é caracterizada por
descoordenação motora, movimentos oculares rítmicos como se estivesse lendo
(nistagmo) e paralisia de certos músculos oculares, provocando algo parecido ao
estrabismo para quem antes não tinha nada. Além desses sinais neurológicos o
paciente pode estar em confusão mental, ou se com a consciência clara, pode
apresentar prejuízos evidentes na memória recente (não consegue gravar o que o
examinador falou 5 minutos antes) e muitas vezes para preencher as lacunas da
memória o paciente inventa histórias, a isto chamamos confabulações. Este
quadro deve ser considerado uma emergência, pois requer imediata reposição da
vitamina B1(tiamina) para evitar um agravamento do quadro. Os sintomas
neurológicos acima citados são rapidamente revertidos com a reposição da tiamina,
mas o déficit da memória pode se tornar permanente.
Quando isso
acontece o paciente apesar de ter a mente clara e várias outras funções mentais
preservadas, torna-se uma pessoa incapaz de manter suas funções sociais e
pessoais.
Síndrome Demencial Alcoólica
Esta é semelhante a demência propriamente dita como a de Alzheimer. No uso
pesado e prolongado do álcool, mesmo sem a síndrome de Wernick-Korsakoff, o
álcool pode provocar lesões difusas no cérebro prejudicando além da memória a
capacidade de julgamento, de abstração de conceitos; a personalidade pode se
alterar, o comportamento como um todo fica prejudicado. A pessoa torna-se
incapaz de sustentar-se.
O Delirium Tremens é uma forma mais intensa e complicada da abstinência.
]Delirium é um
diagnóstico que designa estado de confusão mental: a pessoa não sabe onde está,
em que dia está, não consegue prestar atenção em nada, tem um comportamento
desorganizado, sua fala é desorganizada ou ininteligível, a noite pode ficar
mais agitado do que de dia (é conhecido como “o terrível anoitecer”), são
comuns os tremores intensos ou mesmo convulsão, daí o nome Delirium Tremens. Um
traço comum no delírio tremens, mas nem sempre presente são as alucinações
táteis e visuais em que o paciente "vê" insetos ou animais asquerosos
próximos ou pelo seu corpo. Esse tipo de alucinação pode levar o paciente a um
estado de agitação violenta para tentar livrar-se dos animais que o atacam. O
Delirim Tremens é uma condição potencialmente fatal, principalmente nos dias
quentes e nos pacientes debilitados.
Problemas Clínicos causados pelo álcool:
Diversos são os problemas causados pela bebida alcoólica pesada e prolongada,
dentre eles:
Sistema Nervoso -
Amnésias nos períodos de embriaguez, o álcool inibe algum dos sistemas de
memória impedindo que a pessoa se recorde de fatos ocorridos durante o período
de embriaguez. Induz a sonolência, mas o sono sob efeito do álcool não é
natural, tendo sua estrutura registrada no eletroencefalograma alterado. Entre
5 e 15% dos alcoólatras apresentam neuropatia periférica. Este problema
consiste num permanente estado de hipersensibilidade, dormência, formigamento,
câimbras. Nas síndromes alcoólicas pode-se encontrar quase todas as patologias
psiquiátricas: estados de euforia patológica, depressões, estados de ansiedade
na abstinência, delírios e alucinações, perda de memória e comportamento
desajustado.
Sistema Gastrintestinal - Grande quantidade de álcool ingerida de uma vez pode
levar a inflamação no esôfago e estômago o que pode levar a sangramentos, além
de enjôo, vômitos e perda de peso. Esses problemas costumam ser reversíveis,
mas as varizes decorrentes de cirrose hepática além de irreversíveis são
potencialmente fatais devido ao sangramento de grande volume que pode
acarretar. Pancreatites agudas e crônicas são comuns nos alcoólatras
constituindo-se uma emergência à parte. A cirrose hepática é um dos problemas
mais falados dos alcoólatras; é um problema irreversível e incompatível com a
vida, levando o alcoólatra lentamente à morte.
Câncer - Os alcoólatras estão 10 vezes mais sujeitos a qualquer forma de câncer
que a população em geral.
Sistema Cardiovascular - Doses elevadas por muito tempo provocam lesões no
coração provocando arritmias e outros problemas como trombos e derrames
conseqüentes. É relativamente comum a ocorrência de um acidente vascular
cerebral após a ingestão de grande quantidade de bebida.
Hormônios Sexuais - O metabolismo do álcool afeta o balanço dos hormônios
reprodutivos no homem e na mulher. No homem o álcool contribui para lesões
testiculares o que prejudica a produção de testosterona e a síntese de esperma.
Essa deficiência contribui para a feminilização dos homens, com o surgimento,
por exemplo, de ginecomastia (presença de mamas no homem). O álcool pode afetar
o desejo sexual e levar a impotência por danos causados nos nervos ligados a
ereção. Nas mulheres o álcool pode afetar a produção hormonal feminina, levando
diminuição da menstruação, infertilidade e afetando as características sexuais
femininas.
É muito mais comum do que
se imagina a coexistência de alcoolismo com outros problemas psiquiátricos
prévios ou mesmo precipitante. Os transtornos de ansiedade, depressão e insônia
podem levar ao alcoolismo. Tratando-se a base do problema muitas vezes se
resolve o alcoolismo. Já os transtornos de personalidade tornam o tratamento
mais difícil e prejudicam a obtenção de sucesso.
Fonte: Dr Janicéia Simplício. Clínica Geral e Psiquiatria