O
contribuinte potiguar paga, por mês, R$ 3,5 mil para manter atrás das grades
cada preso do sistema carcerário do Rio Grande do Norte. O valor é alto quando
comparado com o que é gasto para manter, por igual período, um aluno dentro da
sala de aula. Mensalmente, a Secretaria Estadual de Educação e da Cultura
(Seec) gasta quinze vezes menos do que custa um detento. São apenas R$ 233,88
por aluno. A disparidade entre os valores gera revolta especialmente entre os
educadores, que questionam a importância dada à pasta.
Genilson
Vicente da Silva está preso em Alcaçuz, mas não tem idéia de quanto custa ao
Estado. Mas não deve ser muito barato, diz.
A Seec não
faz um acompanhamento mais aprofundado sobre quais os custos gerados por cada
um dos 310 mil alunos. As informações estão disponíveis no Sistema de
Informações sobre Orçamentos Públicos em Educação (Siope) e não descrevem, por
exemplo, o custo per capita da merenda escolar. "Colocamos no sistema
apenas o total das nossas receitas e despesas. O cálculo é gerado
automaticamente, mas não sei como é feito", disse uma funcionária da
secretaria que preferiu não revelar a identidade.
Por outro
lado, a Coordenadoria de Administração Penitenciária (Coape), subordinada à
Secretaria de Estado da Justiça e Cidadania (Sejuc), conhece quais as despesas
que fazem o custo com cada um dos 5.765 detentos ser tão elevado. O coordenador
da Coape, José Olímpio da Silva, cita quais são os principais gastos. "A
alimentação é o que custa mais caro. Fornecemos a alimentação completa todos os
dias. Além disso, somos responsáveis por tudo que se possa imaginar com relação
aos presos. Desde um remédio para dor de cabeça até os cuidados antes e após
uma cirurgia", diz.
Alimentação,
salário dos funcionários, água, energia, manutenção dos prédios, viaturas e
locação de veículos. Tudo isso entra na conta da Coape. O coordenador ironiza
quando questionado sobre a desigualdade entre os valores gastos com presos e
alunos. "A penitenciária é uma escola em tempo integral. Damos café, almoço
e jantar".
Os presídios
deveriam funcionar como instrumentos de ressocialização dos apenados. Após
cumprir a pena imposta pela Justiça, os presos estariam aptos a voltar à
sociedade. Mas, do valor usado para custear a detenção de um preso, pouco sobra
para investir em atividades que ocupem o tempo e a mente daqueles que estão
privados da liberdade. Há alguns poucos bons exemplos. Na penitenciária
estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, existe uma fábrica de cartuchos de
impressora onde alguns apenados trabalham.
Há também
uma fábrica de bolas e quatro vezes por semana uma pequena sala é ocupada por
poucos alunos que assistem aulas de português e matemática. É lá que, até
setembro passado, o apenado Genilson Vicente da Silva participava das aulas.
"As aulas encerraram em setembro e agora voltam próximo ano. Nunca tinha
estudado antes. Aprendi a ler e escrever aqui dentro", diz.
Apesar de
terem o mesmo sobrenome, o estudante do ensino médio da escola estadual
Desembargador Felipe Guerra, Arisson Augusto Silva, não conhece o apenado
Genilson. Além do sobrenome, os dois têm em comum o fato de desconhecerem
quanto o Governo do Estado gasta, mensalmente, com eles. "Não sei quanto
é, mas acho que não deve ser muito barato porque aqui a gente tem a alimentação
todo dia, né?", afirma Genilson.
Professores,
gestores públicos e profissionais ligados ao Poder Judiciário concordam que
para manter a estrutura de 11 unidades prisionais, além dos 28 Centros de
Detenção Provisária (CDPs) espalhados por todo o Rio Grande do Norte não é
fácil, nem barato. Outro ponto onde há concordância de ideias é com relação à
qualidade do serviço oferecido. Se de um lado a escola pública não forma alunos
preparados para a vida, do outro, o sistema carcerário falha na tarefa de
ressocialização e acaba contribuindo no processo de marginalização do
criminoso. "As cadeias não cumprem com seu papel. O preso acaba fazendo
uma pós-graduação no crime. É um contrassenso termos um investimento tão baixo
na educação e gastarmos tanto com os presos", afirma o vice-presidente da
Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) no Estado, Aldo Medeiros Filho.
Bate-papo
Aldo
Medeiros Filho » vice-presidente da OAB/RN
"O
gasto com educação deveria ser prioritário"
O sistema
carcerário do Rio Grande do Norte sempre despertou preocupação. São inúmeras
fugas e o deficit de vagas é muito alto. Como a OAB/RN analisa e vigia essa
questão?
A Comissão
de Direitos Humanos da OAB/RN está atenta a esse problema. Sempre estamos
conversando com o Poder Judiciário para que visitas sejam feitas e observe-se
como estão as condições dos presos e acompanhamos as medidas que estão sendo
tomadas para melhorar a situação.
E como estão essas condições atualmente?
E como estão essas condições atualmente?
Infelizmente
o que vemos hoje é que os presídios do Estado viraram verdadeiros depósitos de
indigentes.
É impossível
conseguir ressocializar um preso em um ambiente assim....
O que vemos
hoje é que as cadeias se transformaram na pós-graduação do crime. É muito
difícil que um detento, ao sair do presídio, não recaia no mundo da
criminalidade. As pessoas estão isoladas e aqueles que tem não um
acompanhamento adequado acabam recaindo nos erros e voltando à prisão.
A
privatização do sistema carcerário do país é uma solução viável?
As
experiências com cadeias privatizadas ainda são escassas. E exatamente por
isso, não se pode simplesmente trocar um sistema pelo outro. É preciso antes
estudar muito detalhadamente todas as implicações que a mudança geraria e os
custos disso para o Estado também. Eu pessoalmente acho que a privatização é
válida, mas não pode ser aplicada em 100% do sistema.
A Comissão
da OAB já conseguiu algum avanço junto ao novo Governo?
Temos um bom
relacionamento com o atual secretário de Justiça e Cidadania, Thiago Cortez, e
conseguimos alguns avanços. Entre eles, a desativação do Centro de Detenção
Provisória das Quintas e a liberação do novo pavilhão de Alcaçuz.
Como o
senhor analisa essa diferença entre os custos de presos e apenados?
Acho que é
um contrassenso. O gasto com a educação deveria ser prioritário em qualquer
governo. Só ele poderia diminuir os custos do sistema prisional.
Fonte:TribunaDoNorte
Deve ser por isso que existem tantos presidiários em nosso Estado, em nosso País, afinal de contas, tem vida melhor que essa? o Suor é nosso, mas quem usufrui são eles, é sempre assim. Enquanto isso em nossas escolas públicas gastasse bem menos de 50 centavos dia na alimentação de cada aluno. Enfim... Como diria o Jornalista Boris Casoy, isto é uma vergonha!Êh País da HIPOCRISIA...!
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